Artigo Publicado na revista TerceiroMilênio | ABR/2012
Nas práticas corporais chinesas há duas diferenciações entre as escolas estudadas. Existem as que enfatizam a força interna e as que trabalham com a força externa. O Tai Chi Chuan está entre as práticas que fazem parte da chamada Neijia, escola interna onde a ênfase está no cultivo e desenvolvimento do Qi ou energia vital.
De acordo com o professor
Eduardo Molon, “
força interna significa, em poucas palavras, usar a musculatura profunda de forma coordenada para manter a postura e executar os movimentos”. O professor é o secretário-geral da
World Chen Xiaowang Taijiquan Association Brasil – WCTA-Br, que reúne os praticantes do estilo Chen de
Tai Chi Chuan no ocidente. Molon, que é um aluno ‘a portas fechadas’ de
Chen Yingjun (20ª geração da família Chen), estimula a prática do
Tai Chi lembrando que é possível desenvolver a força interna por meio do treinamento.
Há anos a ciência encara o ser humano de uma maneira cartesiana, onde o corpo não passa de uma máquina e onde de acordo com os princípios deterministas, se algumas precauções forem tomadas, a saúde sempre existirá e ao contrário, sem as tais precauções, invariavelmente o destino é enfrentar a doença.
Mais recentemente especialistas têm alertado que a saúde não envolve um único fator. É preciso olhar de maneira conjunta para o ser humano com o intuito de promover um quadro saudável. Neste contexto não se tem mais o foco na doença, mas sim no fortalecimento do corpo. Os chineses consideram a atividade física como condição para a boa saúde, e não uma a promotora desta. O bem-estar envolve tanto o físico quanto o mental e até o espiritual.
A ciência busca respostas para o sucesso de algumas práticas da medicina oriental e independente de que lado do planeta estejamos habitando há um consenso: mover o corpo, nem que seja numa simples caminhada de 15 minutos, pode resultar em profunda melhoria para a saúde. Uma sequência de Tai Chi equivale a andar quatro quilômetros.
Pesquisadores norte-americanos divulgaram em 2011 um estudo no qual atribuem aos movimentos lentos e tranquilos do Tai Chi, aliados à respiração tranquila no momento da prática, o poder de abaixar a pressão sangüínea, irrigar as articulações, estimular a circulação, construir músculos e fortalecer o sistema imunológico. Sem a tensão ou a busca nervosa por resultados, o praticante se sente revigorado e até mais jovem.
Praticante de Tai Chi Chuan e formada pelo Instituto de Taijiquan de Brasília – IFTB, a médica e homeopata Silvia Bicudo ensina a arte, gratuitamente, para um grupo de idosos em um centro de saúde na capital do país. A médica é uma grande entusiasta da arte como ferramenta para favorecer o equilíbrio e a marcha dos pacientes, principalmente dos que tem a idade mais avançada.
Entre os praticantes é comum relatos de sucesso com os exercícios harmoniosos e efetivos dessa prática marcial. O repórter fotográfico Waldemir Barreto, também formado pelo IFTB, conta que iniciou o treinamento meses depois de deixar a cadeira de rodas e reaprender a caminhar. “Vítima de um acidente de trânsito em 2009 tem PARTE DO fêmur substituído por placas de titânio…”, o que não impediu seu aprendizado das formas do estilo Yang e Chen e também uma melhora considerável na circulação sanguínea.
A simplicidade do Tai Chi Chuan atrai. Não é necessário ser um superatleta, ágil e forte. Não é preciso ter equipamentos sofisticados, apenas um bom espaço e de preferência ao ar livre. Não é imprescindível estar tenso e com o intelecto trabalhando na capacidade máxima. Basta sentir o coração e o corpo, principalmente o fluxo da energia dentro dele. E num simples movimento, quase sem percebermos, começa a interação entre o processo meditativo e as posturas fortalecedoras. É o início de algo muito maior, do encontro entre o ser e a saúde, entre a ação e o repouso, entre o céu e a terra, entre a suavidade e a força.