Por Aristein Woo
Artigo Publicado na revista TerceiroMilênio | DEZ/2010
Durante séculos, os humanos utilizaram substâncias animais, vegetais e minerais para tingir suas roupas. No caso do Brasil, o próprio nome do país vem da árvore da qual se extraía um corante de belíssimo tom avermelhado – o pau-brasil.
Na China, e em outros locais do mundo, o azul era obtido a partir do extrato do
indigueiro. Mesmo hoje, a indústria do vestuário colore as calças
“jeans” com o tom azulado dessa planta, que por isso são chamadas de
“índigo”.
O dom de observação da natureza e de criação de analogias dos antigos chineses levou-os a criar um provérbio a partir desse produto vegetal. Reza o dito provérbio: “O corante azul é retirado do indigueiro”.
A primeira vez que esse provérbio foi utilizado aconteceu durante o período das Dinastias do Norte (aproximadamente entre os séculos IV e VI da nossa era). Existia, então, um famoso professor chamado Kong Fan. Sua fama se devia tanto aos conhecimentos acumulados durante a vida, quanto ao seu caráter moralmente correto. Kong Fan realmente se dedicava ao ensino. Ele ensinava tudo o que sabia, com liberalidade. Ao mesmo tempo, seu exemplo de conduta tinha um fortíssimo efeito sobre os discípulos. Todos o tinham em grande respeito. Um de seus alunos mais dedicados e capazes, chamado Li Mi, era especialmente dotado e aprendia tudo com muita facilidade. Com o passar dos anos, Li Mi tornou-se ainda mais culto e sábio do que seu mestre. Quando Kong Fan encontrava alguma situação de maior complexidade, buscava conselho e orientação junto a seu antigo discípulo. Isso fazia com que Li Mi se sentisse constrangido. Aquele era seu antigo mestre, que lhe ensinara tantas coisas e com tanta dedicação. Um mestre não deveria se consultar com um mero discípulo. Percebendo o embaraço de Li Mi, o antigo mestre citou um verso tradicional: “O corante azul é retirado do indigueiro”. Kong Fan utilizou essa frase como uma metáfora para ilustrar a situação de um discípulo ultrapassar o mestre em conhecimento e capacidade, pois o matiz azulado do corante é ainda mais bonito que o da própria planta.
Quando vejo o progresso dos meus alunos, isso me enche de alegria. Meu profundo e sincero desejo é de que progridam ainda mais, até superarem-me naquilo em que me esforço em transmitir. Faz parte da minha postura de confiança no futuro. A humanidade não está estática. A cada dia aprendemos alguma coisa, formamos novos conceitos, ampliamos a nossa visão. Cada geração deve superar a anterior (ai da humanidade se não for assim). Essa é a responsabilidade que cada mestre sincero transmite ao seu discípulo. E o bom discípulo honrará essa esperança do seu mestre como o cumprimento de um compromisso. “O corante azul é retirado do indigueiro”, e é ainda mais bonito que essa planta. Lembremos disso em cada lição aprendida.
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