POR QUE ASSISTIR A UM SEMINÁRIO?Por Eduardo Molon
Eduardo Molon e o mestre Chen Yingjun Ao ver um anúncio ou um artigo sobre a vinda de um mestre mundialmente reconhecido ao Brasil, um praticante muitas vezes pergunta-se se vale mesmo a pena ir ao seminário. Se ele mora na cidade onde o seminário acontecerá o investimento de tempo e energia não costuma ser alto, mas se a residência é em outra cidade, ir ao seminário envolve uma viagem, com custos de passagem aérea, estada, alimentação, e uma ou outra falta ao trabalho.
Em geral, as três questões que um praticante faz a si mesmo ao pensar em inscrever-se num seminário são: Por que ir ao seminário, se já sei a forma? Por que ir ao seminário, se ainda não sei a forma, e vou ficar perdido? E… Será que eu estou no ponto para aprender com um mestre, ou devo ainda treinar por algum tempo somente com o meu professor? Estas perguntas revelam, na verdade, alguma incompreensão do papel da forma no sistema didático, do objetivo real do treinamento, e da importância de um mestre de alto nível.O que é fundamental compreender é que ao aprender Taijiquan, o objetivo não é aprender certas técnicas especiais de artes marciais, nem técnicas para melhorar a força e a saúde, e menos ainda aprender coreografias de movimentos. Tampouco o objetivo seria conhecer um modo exótico de se mover ou de respirar.
O objetivo ao praticar Taijiquan, e é impossível frisar isto o suficiente, é transformar o corpo. Isto é um conceito que se originou nos meios Taoístas na China, e chegou às artes marciais aproximadamente no século XVII (Shahar, 2008). Para atingir este objetivo, o único modo é seguir as instruções de alguém que já conheça o caminho: não apenas as instruções verbais, e não apenas de alguém que conheça o caminho intelectualmente. É imprescindível ter acesso a um professor que já tenha feito pelo menos em grande medida esta transformação, e é necessário que ele corrija a postura do aluno com as próprias mãos.Existem poucos professores neste nível em todo mundo, por um motivo simples. Conseguir atingir um nível avançado da transformação do corpo (e da mente) requer dedicação profissional, em todos os sentidos. É o mesmo que dizer: conquistar uma medalha de ouro em uma Olimpíada requer dedicação profissional, ou seja, é necessária instrução com os melhores treinadores disponíveis, desde a infância, e por muitas horas por dia. É necessário fazer do Taijiquan uma carreira, um modo de vida, para atingir um grau alto na arte. Não é nada demais, é assim com qualquer carreira: se você quiser ser um grande violinista, ou um físico renomado, ou um professor titular numa universidade respeitada, ou um médico cuja opinião sobre casos difíceis é sempre requisitada, é a mesma coisa. Por algum motivo curioso a fantasia de que no Taijiquan é diferente está muito disseminada no Ocidente.Suponhamos que você deseje aprender a pilotar um Fórmula 1 a 300 km/h, e suponhamos que você tenha à sua disposição um campeão de Fórmula 1 para te ensinar a pilotar carros de competição desde o mais simples até chegar ao seu objetivo, passando por todos os estágios. Suponhamos também que você possa ter aulas com um piloto de Fórmula 3000, em vez de ter com o campeão de Fórmula 1. Ora, o campeão conhece todo o caminho, e é capaz de escolher com exatidão cada correção a ser feita, cada instrução a ser dada, visando sempre o objetivo final, que ele já atingiu. Por que ter instrução com o piloto de Fórmula 3000? Existe um bom motivo: porque nem sempre o campeão de Fórmula 1 está presente, a agenda dele é muito cheia, e ele dá aulas em vários países. Então a solução é ter aulas com o campeão sempre que possível, e com o piloto de Fórmula 3000 regularmente. Os dois são complementares, e necessários. E se você observar bem, verá que os pilotos de Fórmula 3000 que desejam progredir aprendem com os campeões de Fórmula 1 sempre que podem.Quanto à forma, seu papel no método didático é o de um instrumento para aprender a mover o seu corpo de um modo novo, que resulta da transformação do corpo e ao mesmo tempo a orienta. Embora a forma principal de um sistema marcial possa ser chamada de “a jóia” do sistema, por ser o repositório dos ensinamentos mais importantes, não podemos perder de vista que ela é o repositório e não o ensinamento. Assim, se alguém já conhece uma forma, este é um excelente motivo para assistir a um seminário sobre esta mesma forma, pois a atenção ao modo como o mestre se move poderá ser ainda maior. Se alguém não conhece a forma que será objeto de um seminário, basta combinar as duas perspectivas: quem melhor para ensiná-la do que um mestre?
Como já dissemos, a forma não é o principal, mas sim, o modo como o mestre se move. Para aprender uma nova forma basta comprar um DVD, existem inúmeros disponíveis, editados pelos próprios mestres. Contudo, para aprender como mover o corpo dentro da forma, é necessária instrução especializada, correções individuais, e ensinamentos teóricos.Mestres de Taijiquan da família Chen têm visitado regularmente o Brasil. Estes profissionais de alto nível e de fama mundial não vêm ao nosso país em busca de alunos, nem de reconhecimento. Se qualquer um deles ficasse todo o ano na sua cidade de residência, o fluxo de alunos que iria até eles seria suficiente para lotar sua agenda. Seu desejo é disseminar informações de qualidade pelo mundo, possibilitar o acesso à arte das suas famílias a quem não dispõe de tempo ou recursos para viajar para o exterior, e nutrir os professores locais para que estes possam orientar bem os alunos. A sua recompensa está em honrar os seus ancestrais e enaltecer o nome das suas famílias, e é claro, em ver seus alunos aprenderem e progredirem. Sejamos gratos por esta oportunidade inédita na história, pois já houve um tempo em que ensinamentos valiosos como os seus eram guardados com segredos..
2 Comments
Boa tarde, Mestres, Instrutores e alunos do IFTB.
Ir ou não ir a um seminário?
Para mim a resposta foi SEMPRE IR!.
A experiência revelou-me que ir em seminários sempre é ganho de experiência. Na verdade, com o tempo, perceberemos que todos os seminários são bons! No caso do nosso penúltimo do ano – temos ainda os do Tai Chi Camp -, como descreve o post, haverá mais uma oportunidade de ter a presença de um “Fórmula 1” na Bahia. Haverá a oportunidade novamente do contato com quem já viveu no local de origem do Tai Chi Chen. Maravilhoso! Quiçá todos pudessem ir!
Ainda sobre o sim ou não dos seminários… Nenhum deve ser desprezado: Os “Fórmula 1”, os “BMW”, “Chevrolet” ou “Fusquinha”… todos são experiências. É indo em seminários que descobrimos a qualidade do quanto estamos treinando. Já fui em muitos – de outras artes marciais – em que supostamente o palestrante/apresentador/mestre teria menor experiência que meus mestres e algumas vezes menos que a minha experiência… Foi nessas vezes que revivi e reaprendi o velho ditado oriental “Mantenha a simplicidade”. Vi, com o comprovadamente menos experiente, nuances de uma forma, de uma aplicação ou de um pensamento teórico/histórico diferentes… e lá estava a “iluminação” de algo que já sabia mas que ainda “não tinha enxergado”. Com o comprovadamente “Fórmula 1”, não há o que comentar, a não ser ter a mente aberta para tentar absorver o máximo possível da experiencia… e depois, é claro, tentar compartilhar com os demais.
Se a vida deixar, se o momento é propício, se não há impedimentos, SEMPRE IR é a melhor opção.
As artes marciais são assim… treinamos, conhecemos… depois retrinamos e reconhecemos a mesma forma… várias vezes, em vários estágios, em várias épocas da nossa vida!
Parabéns ao IFTB por nos apresentar as oportunidades! Todos os seminários – na minha opinião – foram no mínimo ótimos!
Abraços a todos. Saúde e bons treinos.
Att.: Sales
É isso mesmo, Sales!
“É indo em seminários que descobrimos a qualidade do quanto estamos treinando.”
Essa frase resume bem tudo.
Se treinamos sozinhos, não temos parâmetro para avaliar o nosso estágio de desenvolvimento.
Em outras eras, partiríamos para um duelo com outro lutador para fazer essa comparação.
Hoje, se olharmos com o devido olhar, reconheceremos os pontos nos quais somos melhores e os pontos nos quais precisamos nos dedicar mais.
Aristein Woo