Por Aristein Woo
Artigo Publicado na revista TerceiroMilênio | MAR/20111
As lições do taoismo e do I Ching são fundamentadas na observação minuciosa dos elementos da natureza como as estações do ano, a água, as árvores, o céu. Ensina a cultura milenar chinesa que tudo muda, nada permanece. Só a transformação é inexorável, um ciclo segue o outro. Veja o exemplo da água. Ela flui, harmoniosamente, da nascente ao oceano e se encontra um obstáculo, dá a volta. Uma lição de amor, da não resistência.
Um grupo de alunos do
TAOLU, está de malas prontas. Decidiu buscar a nascente, para de lá beber a água da sabedoria do
Tai Chi. Será uma semana em
Chenjiagou, na China, estudando com o grande mestre
Chen Xiaowang, descendente direto de Chen Wangting, criador do estilo Chen. Grande desafio para o grupo de ocidentais que, na maioria, se dedica ao
Tai Chi Chuan há apenas alguns anos. Aprender sem fazer feio é o que todos comentam ser o mais difícil. Ninguém vai dar vexame, estou certo.
Mas, beber a água da fonte é um grande privilégio que o TAOLU se propôs a organizar para aqueles que querem mergulhar na arte do Tai Chi. Li recentemente num texto que numa pequena cidade do norte da China, famosa pelas suas nascentes de água quente, está a “Nascente de Perguntar a Doença“. Qualquer pessoa que se banhe na sua água compreenderá de imediato a origem da própria doença por meio de um formigamento no local afetado. Pessoas com problemas de pele, por exemplo, sentirão um agradável fluxo na epiderme, como se a camada morta tivesse sido retirada por um esfoliante.
Mais do que limpar, levar e trazer a vida, sustentar o homem, a água, para muitos, pode curar. Pensei nela para traduzir a expectativa que vejo nos olhos dos estudantes do Tai Chi no TAOLU em cada reunião que fazemos para discutir os detalhes da ida à China, aprender um pouco de mandarin para sobrevivência e trocar experiências de outras viagens. A água está por todos os lados. Desde no desejo de bebê-la na fonte, como eu já descrevi, como no de encontrá-la por meio do aprendizado das formas e assim talvez alcançar a si mesmo na transformação interna propiciada pelo Tai Chi.
A água permeia o taoísmo base do Tai Chi Chuan. Das coisas mais simples, como o chá, que segundo as lendas orientais surgiu com os monges eremitas, ao contemplarem a natureza e meditarem na busca da harmonia com o ritmo do universo; pois sentiram a afinidade entre determinadas plantas e a água cristalina da nascente. Aos mais complexos, como a história do repouso do sábio, que nada mais é que o resultado de sua atividade mental semelhante à água em repouso, pois esta, quando quieta, é como um espelho permitindo a lucidez. Repouso, tranqüilidade, quietude, naturalidade são os níveis do universo, a perfeição última do Tao.
É com esse espírito que as malas começam a ser preparadas e os corações a bater um pouco mais forte. Os alunos do TAOLU avançaram no estudo das formas e agora a alma deles está com sede, querem mais. Estão como a água, que como preceitua o taoísmo, é maleável, assume todos os tipos de formas, vai aos locais mais recônditos, onde ninguém escolhe estar e, por isso, muito próximo do Tao. Já diz o Tao Te Ching: as pessoas deveriam aprender com a natureza pacífica da água, beneficiando o mundo e sendo humilde. Nosso coração quer aprender.
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